Com certeza menos que as vezes que enjoei das minhas barrinhas de cereais. Mas acho que quis te trocar mais que o papel de parede do meu computador. Talvez tanto quanto eu mudei meu cabelo.
Enquanto coloco de novo em ordem minha cabeça e minha vida que atordoaste nas últimas semanas, descubro em muitos outros que esta confusão é ainda mais comum...
"Ainda vou encontrar um defeito em você"
Enquanto procuras pelo defeito, devias estar se esbaldando, se deliciando, se lambuzando com as poucas qualidades que tenho, figura cheia de falhas, cheia de problemas que nao serão resolvidos nesse caminho. Enquanto procuravas por defeitos eu estava esquecendo os seus e me entregando à cores novas, à cheiros, carinhos, calores novos, diferentes. Enquanto procuras ainda hoje, agora, nesse momento, por defeitos em mim, eu estou te imaginando, agora, hoje, nesse momento, enquanto durmo, enquanto trabalho, estou te imaginando já com saudades, nao pelo que és, mas pelo que foste
Arrependo-me daquele dia que saímos para almoçar. Arrependo-me daquela festa. Arrependo-me de ter te dado meu número de telefone. Arrependo-me de aceitar tua carona. Arrependo-me do jantar que te fiz e da surpresa. Arrependo-me de todo o cuidado e carinho. Arrependo-me de muita coisa, menos de uma. Não pude evitar. Não me arrependo de ter-me apaixonado por ti.
-Pra mim você tem medo.
-O quê? Medo de quê, chatinha?
-Olha só você... Agora a pouco tinha me chamado de "linda" e na menor ameaça que sente, já me chamou de "chatinha". Você é todo galanteador. Mas, cara, seu escudo é pior que o meu. Você tem medo.
-Ah,pára com isso... Você está falando que eu tenho medo de você?!
-De mim e de qualquer mulher que ultrapasse a sua linha imaginária de intimidade permitida. Você nunca me deixou te conhecer um pouco mais pra eu nunca saber o que te deixou assim, com medo.
Ele riu, puxou-a pela cintura e lhe deu um beijo. Sem medo.
O céu estava rosado ao horizonte, como fica nas noites em que as nuvens indicam que a chuva se arma. Mas não viria chuva. Havia estrelas demais aquela noite para que existisse chuva. Estava rosado, mas sem nuvens. A lua estava fraca, faltava-lhe luz, diferentemente das noites de lua cheia que se encerraram durante a semana.
Isabela brincava com o copo em suas mãos olhando o quadro pintado à sua frente. Esvaziou a água do copo tão distraída com a paisagem da noite que se esqueceu de repousá-lo. Olhava os tons e as formas do céu que até se esquecera do frio que lhe arrepiava. Isabela percebeu que as estrelas poderiam ser como pontos que se ligam e, assim, fariam o contorno que ela quisesse.
Contornando a beira do copo com a ponta dos dedos, ela mordeu o lábio e fechou os olhos na lembrança de Henrique que acabara de surgir. Mesmo que o nome ainda lhe provocasse um suspiro, mesmo que seu estômago se agitasse com o pensamento nele, mesmo que as lembranças boas superassem todo o resto, ela tinha a certeza: acabou.
Isabela não falava nada. Angustiada, Larissa lhe tirou o copo das mãos e resmungou:
_ Eu não tinha nada que ter te contado. Pelo menos não hoje.
Balançando levemente a cabeça, Isabela levantou os olhos e respondeu em tom sereno:
_Eu já esperava. O dia pouco importa. Eu esperava... – e fechando novamente os olhos, acrescentou – Mas também desejava que estivesse errada.
E quando olhou novamente para Larissa, do seu olho direito escorreu a primeira lágrima. Os braços da amiga rapidamente a envolveram, e Isabela recebeu um afago nos cabelos. O choro, então, não foi mais contido. Não era um choro desesperado, muito menos ruidoso. Tomando fôlego, Isabela chorava uma mescla de vazio e alívio, consciente e buscando forças. Tinha acabado.